sexta-feira, 13 de novembro de 2009

2º Seminário "Cidadania e Redes Digitais" - Mesa 2/6

A segunda mesa, mediada pelo coordenador do Programa de Pós-Graduação da Cásper Líbero, Prof. Dr. Dimas Künsch, começou com o bom humor do Prof. Langdon Winner, da Rensselaer Polytechnic Institute, em Nova Iorque. "Farei minha fala livre de apresentação PowerPoint" (PowerPoint free, fazendo um trocadilho com free software/software livre). O Prof. Winner apresentou um ponto de vista bastante radical sobre plágio no contexto educativo. Criticando fortemente um software de detecção de plágios, o Turn it in (ou "Turn the bastard in" 1, como brincou o Prof. Winner), sua exposição apresentou argumentos de que nem toda informação é "citável", ou seja, há referências que estão tão intrínsecas em nosso pensamento que os alunos podem nem identificar que estão fazendo referência a outro autor.

O mecanismo do software é binário demais para detectar plágios, ou seja, falta-lhe inteligência e sensibilidade, e por isso acaba por cometer injustiças, acusando falsamente alunos de plagiadores, e que não devemos desencorajar os alunos a copiarem textos de terceiros. A visão do Prof. Winner nos parece tão radical quanto a crítica que ele próprio faz do software Turn it in: o que nós educadores devemos fazer, professor?! Incentivar os alunos a copiarem textos da Internet? Não ensiná-los a fazer citações bibliográficas? Referenciação é necessário, é justo, é sincero, até mesmo a licença Creative Commons exige citação da fonte e autor originais.

A mesa seguiu com a apresentação do Prof. Ronaldo Lemos, diretor do Centro de Tecnologia e Sociedade da Escola de Direito da Fundação Getúlio Vargas e diretor do Creative Commons Brasil. Ronaldo dissertou sobre como a Internet passou a ser alvo de tentativas de ser criminalizada no Brasil, assunto que foi aprofundado por Sérgio Amadeu na Mesa 6. Lemos apresentou alguns dos pontos mais polêmicos da Lei Azeredo, que apresentava uma proposta de cima pra baixo para criminalizar a Internet no Brasil. Além de autoritária, a Lei Azeredo era incoerente com a realidade tecnológica e social da Internet, e não levava em conta as peculiaridades que tornam a Internet uma grande rede de compartilhamento livre (e controlado, como extensamente discutido no Seminário).


Essas peculiaridades tornam-se ainda mais evidente quando a sociedade civil organiza-se utilizando a própria Internet e rejeita calorosamente a proposta do Senador Eduardo Azeredo. Essa mobilização culimou em um processo colaborativo de discussão e formulação de um marco civil para a Internet brasileira, atualmente sistematizado no site Cultura Digital, rede social que nasceu de uma parceria do Ministério da Cultura com a Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP), formado pelos Ministérios da Ciência e Tecnologia (MCT) e da Educação (MEC). O processo do marco civil é extremamente inovador: as discussões desenvolvidas no site (que já vinham sendo discutidas em blogs, sites, no Twitter, etc.) serão sistematizadas e levadas em consideração pela equipe do Marco Civil. Ronaldo termina sua apresentação com a esperança de que o marco civil sirva como referência para processos futuros, onde a sociedade civil tem participação mais ativa na elaboração das leis federais. É uma nova relação de representatividade.

Encerrando a mesa, o Prof. Giuseppe Cocco, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), falou sobre a oposição entre o neocapitalismo e o capitalismo cognitivo, ou bio-capitalismo. Esse último é a apropriação das lógicas de consumo dos bens materiais (commodities) sobre a informação e o conhecimento, que por sua vez são bens intangíveis. Assim, aplica-se conceitos inapropriados e descontextualizados, quando a alternativa deveria ser encontrar novas formas de lidar com esses bens não-materiais. Neocapitalismo, também chamado economia mista, é um termo utilizado para designar uma nova forma de capitalismo - surgido nas sociedades reconstruídas e tecnológicas do pós-guerra - que se caracteriza pela correção de seus excessos, mediante a aplicação de medidas visando ao bem estar social.2

1 Turn it in significa "entregue-o, delate-o". Turn the bastard in seria "dedure o maldito aluno".
2 Wikipedia. Neocapitalismo. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Neocapitalismo>. Acesso em 10 nov. 2009.

Mais informações sobre essa mesa por Gabriela Agustini no blog Cidadania e Redes Digitais.

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