quinta-feira, 12 de novembro de 2009

2º Seminário "Cidadania e Redes Digitais" - Introdução e Mesa 1/6

Nos dias 4 e 5 de novembro de 2009, a Fundação Cásper Líbero, por meio de seu curso de Mestrado em Comunicação, promoveu o 2º Seminário "Cidadania e Redes Digitais". Foram 2 dias, 6 mesas, 19 palestrantes, 6 mediadores, 2 tradutoras simultâneas, uma grande equipe audiovisual e de logística e um anfiteatro muitas vezes lotado de ouvintes sedentos por debates ao final das exposições, tudo isso coordenado principalmente pelo Prof. Dr. Sérgio Amadeu. Os debates giraram em torno de temas como a sociedade interconectada, produção compartilhada e descentralizada de informação e conhecimento, anonimato na rede, mecanismos de controle, software livre, padrões abertos, interatividade, e é claro, cidadania, entre outros. O evento foi transmitido ao vivo via streaming.

Nós dois, professores da disciplina TIEM, recebemos o convite da coordenação do Programa de Pós-Graduação em Imagem e Som da UFSCar (PPGIS/UFSCar). A Cásper Líbero reservou duas inscrições para alunos do PPGIS, que foi endereçado a nós pela afinidade com nossos temas de pesquisa. Faremos aqui uma breve análise do que rolou nas mesas e debates durante os dois dias de evento. Vamos lá?!


Mesa 1 - Protocolos, códigos, e o princípio da neutralidade na rede

Após Sérgio Amadeu ter feito as honras da casa, a mesa foi muito bem aberta por Tim Wu, professor da Columbia Law School. Com uma presença marcante, Tim apresentou dados e argumentos sobre como a história dos meios de comunicação têm apresentado um ciclo que se repete a cada inovação tecnológica comunicacional: invenção e fundação (por um indivíduo ou grupo), abertura para a população e dominação político-econômica por um pequeno e seleto grupo (geralmente de empresas e grandes corporações). Foi assim com o cinema, o rádio, a TV, e a tese de Tim é o que o mesmo poderá ocorrer com a Internet. Tim argumenta: "neutralidade na rede é a opção de cada um escolher quais informações deseja receber".

Seguiu-se a apresentação de Demi Getschko (pasmem: esse é brasileiro!), engenheiro e diretor-presidente do Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br), ator importante na consolidação da Internet no Brasil. Demi falou sobre a natureza dos protocolos da rede, desenvolvidos para serem abertos, transparentes e neutros desde seus primórdios, e apontou subsídios para fortalecer os esforços de muitos para manter a neutralidade da rede. Demi aponta ainda que a responsabilidade não é somente do governo, mas da sociedade civil, que deve organizar-se para manter esse direito básico.

Para manter o altíssimo nível dessa mesa, coube a Carlos Afonso encerrá-la. Também engenheiro e membro do Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br), Afonso apresentou dados alarmantes: a empresa Narus desenvolveu um software que analisa o tráfego semântico da Web, ou seja, qualquer dado que trafegue por uma rede conectada à Internet pode ser identificado, armazenado, manipulado, copiado ou destruído, inclusive em tempo real. Softwares como esse podem ser (pra não dizer que já o são) instalados pelos provedores de acesso para controlar o tráfego de dados de cada usuário, podendo inclusive boicotar o acesso a determinadas informações ou tipos de informação (como por exemplo um download ou uma conversa via VoIP).

Há ainda outros dados preocupantes: no Brasil, apenas cerca de 10,8 milhões de pessoas têm acesso à banda larga (menos de 10% da população). Na verdade, ainda segundo Afonso, o conceito de banda larga no Brasil é bastante questionável: qualquer conexão com mais de 128Kbp/s já é considerada banda larga, enquanto a maior abertura disponível comercialmente é de 12Mbp/s. Qualquer abertura acima disso existe em caráter experimental. Na Europa, o padrão para banda larga é qualquer conexão de no mínimo 2Mbp/s, e há disponibilidade comercial de conexões de até 100Mbp/s! O valor cobrado por essas conexões são indignantes: em São Paulo, o custo médio de uma conexão banda larga é de R$150 a cada MB/s por mês; em Londres, esse mesmo MB/se por mês custa aprox. R$2,60, 65 vezes mais baixo!

Mais informações sobre essa mesa por Gabriela Agustini no blog Cidadania e Redes Digitais.

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