sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Inclusão Digital: A Cibercultura como fonte de exclusão?

De fato, o acesso ao ciberespaço necessita de infra-estrutura e investimento de dispositivos e equipamentos de alto custo, inacessíveis para grande parte da população mundial ou até mesmo para alguns dos países mais pobres do mundo. Há também outros obstáculos que estão além da questão econômica, que estão ligados às competências e cultura humanas.

Contudo, há fatos a serem considerados que podem ajudar a responder essa questão. Comparada a outros meios de comunicação que perpassam a história da humanidade, a internet é o meio que mais rapidamente cresce no que diz respeito a acesso. Se pensarmos nos correios, que foi criado antes mesmo que a 90% das pessoas soubessem ler ou escrever, ou ao telefone, que mesmo hoje é usado por pouco mais de 20% da população mundial, a comunicação por meio da rede mundial de computadores é a que tem um crescimento muito mais acelerado, mesmo por entre as camadas mais desfavorecidas economicamente.

Outro ponto a se destacar é o barateamento do custo a curto prazo e a expansão dos conhecimentos necessários para que se possa ter acesso à essa tecnologia. Com o desenvolvimento de tecnologias de software e hardware nos últimos 30 anos, cada vez mais os computadores e a própria internet se tornam mais amigáveis e permitem uma interface muito mais acessível a todos os níveis de usuários. Desta forma, não é necessário mais que uma pessoa seja especialista em computação para navegar pela grande rede. É muito mais fácil, nos dias atuais, aprender a usar a internet, mesmo sozinho. Prova disso são as crianças, cada vez mais jovens, familiarizadas com terminologias e processos que há pouco tempo atrás só poderiam ser realizados depois de um certo treinamento e de prática em cursos especializados.

O que deve ficar bem claro é que toda nova tecnologia em comunicação tem como consequência a produção de excluídos. Antes da escrita, não haviam analfabetos e antes da imprensa, não haviam desinformados. Contudo, nenhuma dessas características versam pelo fim da tecnologia. Ou seja, não é porque houve uma separação entre letrados e iletrados que a escrita deveria ter sido abolida. Da mesma forma, a chamada cibercultura e as tecnologias da internet se desenvolveram de fato a excluir uma certa porcentagem da população e os trabalhos devem ser para incluir cada vez mais pessoas nesse universo, buscando melhorar as suas vidas e a de toda a comunidade com a inserção desses novos meios de comunicação.

É exatamente esse o ponto central do que chamamos de inclusão digital: não é suficiente dar a todas as pessoas um computador com uma ótima interface e todas as facilidades de acesso. É necessário, e talvez seja realmente o mais importante, dar condições para que essas pessoas, munidas de tal tecnologia, possam a utilizar de forma consciente na participação nos processos de inteligência coletiva e de construção colaborativa do conhecimento. A inclusão digital se dá, portanto, não com o acesso à tecnologia pura, mas sim como parte de um processo de inclusão social. O uso das tecnologias deve buscar, antes de tudo, um avanço no bem-estar de todo um grupo social, favorecendo sua cultura, suas necessidades e suas particularidades. Somente desta forma a massa excluída estará, de fato, inserida neste ciberespaço.

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Inclusão Digital: Dados e Estatísticas

Abaixo, seguem alguns gráficos que ilustram parte de quem tem acesso no Brasil e no mundo. Analise os gráficos atentamente, faça cruzamentos entre os dados apresentados e façam uma reflexão acerca de como anda a questão do acesso às tecnologias.


Gráfico 3.2.1. Percen
tual de usuários de internet no Brasil entre 2000 e 2005


Gráfico 3.2.2. Percentual de usuários de internet em alguns países em 2005



Gráfico 3.2.3. Distribuição de indivíduos que acessaram a internet no Brasil em 2005 em função da idade

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Inclusão Digital: O que é?

Antes de mais nada, é imprescindível que se consiga delimitar aqui qual é, de fato, o nosso objeto de estudo, e de que ponto de vista estamos partindo para iniciar o assunto. Desta forma, há algumas definições do que é inclusão digital e a mais básica delas é que estar incluído digitalmente é ter acesso a um computador. E é exatamente com essa definição que começam os problemas. Afinal de contas, só ter um computador que se pode usar é suficiente para se estar incluído na era da informação e do conhecimento? Há algum outro pressuposto que possa materializar essa inclusão? Há outros fatores que podem definir a exclusão que não só a possibilidade ou não de ligar um computador? Vejamos.Em um mundo ideal, imaginemos que o Estado possui o poder e o orçamento necessários para instalar telecentros suficientemente distribuídos pelo país inteiro, com bons computadores equipados com o que há de mais moderno, e que abra as portas desse telecentro para quem quiser entrar. Assim, as primeiras pessoas vão entrando, um tanto quanto desconfiadas, tomando seus lugares na frente dos computadores e logo o primeiro problema desse mundo ideal aparece. Elas não sabem sequer ligar aquela máquina e, muito menos, usá-la. Então percebe-se que há um novo fator para que de fato essas pessoas possam ter acesso ao computador: saber usá-lo! Isso altera a definição anterior. Desta forma, Inclusão Digital é possibilitar o uso dos computadores pelas pessoas, dando a essas conhecimento para aperá-los. Assim, esses telecentros criados contam com professores bem formados e remunerados, que podem ensinar a todos como usar o computador.

O problema é que mesmo que esse mundo ideal existisse, ainda teríamos problemas. Imagine que todos tem como usar um computador e sabem fazer isso. Só que, se estes computadores não estiverem ligados entre si e com a grande rede chamada internet, haverá ainda um grande distanciamento dos novos usuários e todo o potencial que a inclusão digital permite. Assim, tudo isso deveria estar ligado em rede com a internet, o que altera mais uma vez a definição estabelecida sobre inclusão digital. Agora é possibilitar, por meio de estrutura e treinamento, que as pessoas possam utilizar computadores ligados uns aos outros e à internet. Pronto... agora sim, temos uma boa definição sobre inclusão digital.

Contudo, agora que todos podem usar computadores ligados a rede, eles olham uns para os outros e se perguntam: pra quê? Ora, se está tudo certo, se todos podem e sabem navegar pela grande rede, a questão primordial é referente ao motivo pelo qual fariam isso. E é exatamente aqui que entra a questão social do termo. Não basta apenas poder e saber usar. É necessário que se faça isso para um motivo, e este deve ser em favor de si e de sua comunidade. Portanto, chega-se a uma definição um pouco mais cautelosa e criteriosa: Inclusão Digital é o ato de dar acesso à tecnologias de informação e comunicação a toda a população, oferecendo também todas as condições necessárias para que elas utilizem computadores e todo e qualquer dispositivo digital afim de buscar melhorias em suas condições de vida e de toda a sua comunidade.

A inclusão digital é, deste modo, parte de algo maior, a inclusão social, o que está imbuído de outras consequências muito mais complexas do que somente o mundo ideal projetado acima. Em um país onde cerca de 10% da população é absolutamente analfabeta e grande parte dos demais é, de fato, analfabeto funcional, como pensar em inclusão digital? Em outras palavras, como possibilitar que as pessoas possam usar as tecnologias para alcançar avanços em sua condição social, se estas pessoas não sabem ler e escrever, ou mesmo que saibam, não conseguem organizar pensamentos em textos coerentes, nem conseguem entender o que lêem? Inexoravelmente, é impossível se pensar em inclusão, seja qual for a sua natureza, sem pensar em algo que precede tudo isso: educação.

Assim sendo, falar de Inclusão Digital sem englobar o conceito em algo muito maior é fazer um recorte que desconsidera todo o resto, ou mesmo considera que o tudo o que engloba o cidadão está funcionando perfeitamente. Não adianta vender computadores a preços acessíveis, ou investir em telecentros, ou mesmo equipar escolas com ótimas máquinas, se isso tudo não for parte de um projeto muito maior, que necessariamente está ligado à educação e à inclusão social.

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Inclusão Digital: Problematizando o tema

Antes de seguir adiante nesse texto de estudos, faça algumas reflexões: o que é, para você, Inclusão Digital, ou Infoinclusão? O que você faria, se tivesse poderes, para diminuir a Infoexclusão, ou Exclusão Digital? Quais são os fatores necessários para que se possa dizer que uma pessoa é incluída digitalmente? Quem são os incluídos e quem são os excluídos digitais no Brasil? E no estado de São Paulo? E na sua cidade? E na sua família?

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Inclusão Digital: Primeiras Palavras

Falar de Inclusão Digital é sempre bastante delicado e o foco sempre é direcionado para um ponto específico de interesse. Esse texto busca abordar o tema de modo bastante genérico, abarcando as principais definições e algumas de suas implicações no mundo atual. Ou seja, pensar a Inclusão Digital não é somente abordar a questão tecnológica, mas principalmente questões políticas, sociais e educativas.

terça-feira, 17 de novembro de 2009

2º Seminário "Cidadania e Redes Digitais" - Mesa 4/6

A Mesa 4 - Web semântica, interatividade e cidadania introduziu e problematizou o conceito de web semântica: uma web que não depende exclusivamente do comando de seres humanos, mas onde as máquinas também têm participação ativa na interpretação da informação contida na rede. Em outras palavras, algumas práticas seriam automatizadas, pois os computadores seriam capazes de tomar decisões por nós baseados na codificação de arquivos.



Mesa 04
Carlos Cecconi, do escritório do W3C Brasil (World Wide Web Consortium) abriu a mesa contando brevemente a história da World Wide Web, segundo ele idealizada e criada por Tim Berners-Lee, do CERN, em 1989. Cecconi esclareceu que o papel do W3C é desenvolver protocolos e diretrizes para a Web que conduzam-na ao seu potencial máximo, baseando-se em seus quatro princípios básicos: web para todos; web em qualquer dispositivo; web como base de conhecimento; e web confiável e segura. Cecconi finalizou sua apresentação diferenciando a web sintática - composta de regras e formalidades - da web semântica - que são interpretações e inferências.

A mesa seguiu com a discussão filosófica do Prof. Henrique Antoun, da UFRJ. Ainda que tenha declarado-se um entusiasta da web semântica, Henrique fez uma colaboração muito importante para a mesa: coube a ele o papel de problematizar a web semântica. A preocupação do prof. Antoun circunda a seguinte pergunta: se a web semântica proporciona uma web auto-consciente, quem controlará essa auto-consciência? De que modo a multidão terá controle sobre a web semântica, ou será que iremos viver em uma grande paranóia policial? Adepto de estudos fenomenologistas, o prof. Antoun travou consigo mesmo - e com suas referências bibliográficas - um alto embate conceitual sobre o que é consciência.

Quem encerrou - e muito bem - a mesa foi Jomar Silva, desenvolvedor e ativista do padrão ODF (OpenDocument Jomar SilvaFormat), com participação na ODF Alliance Latin America, na ABNT e no OASIS ODF TC, o comitê internacional que desenvolve o padrão ODF. Jomar comparou a formatação dos documentos da suíte de escritório Microsoft Office com hieroglifos digitais, que apenas uma elite tem acesso à sua decodificação. Já os padrões abertos envolvem um processo de elaboração transparente e participativo, são disponíveis a qualquer um que queira acessá-los ou modificá-los, são livres de royalties e não apresentam limites à sua utilização. Jomar concluiu sua apresentação dizendo que optar por um padrão aberto não é uma mera questão de tecnologia: "quem controla o padrão, controla a informação e a comunicação", controla-se quem e quando se acessa essa informação.

Siga Jomar no Twitter: @homembit

Mais informações sobre essa mesa por Gabriela Agustini no blog Cidadania e Redes Digitais.

sábado, 14 de novembro de 2009

2º Seminário "Cidadania e Redes Digitais" - Mesa 3/6


A Mesa 3: Poder comunicacional, ecossistema digital e reputação começou em clima afetivo, com Eugênio Bucci. Dulcília Helena Buitoni, mediadora da mesa, foi sua orientadora de doutorado. Ainda, Eugênio foi professor da Cásper Líbero entre 2001 e 2002, além de já ter trabalhado e/ou participado de projetos junto com Sérgio Amadeu e outros participantes do seminário.

Atualmente professor da USP de São Paulo, Bucci começou sua apresentação ponderando que se por um lado a Internet e outras tecnologias reforçam uma revolução comunicacional da sociedade, por outro podem simplesmente ser facetas d'O Capital, introjetando fetiches consumistas por uma tecnologia mundialmente interconectada e o estabelecimento de novos contratos (por exemplo, o possível fim do trabalho assalariado). Bucci colocou ainda que as tecnologias citadas, em si, não representam inovação, a não ser que estejam atreladas a práticas sociais, e que a dita revolução comunicacional não é inédita ou consequência do advento dessas tecnologias. A referida revolução é parte de um processo histórico, que tem seu primeiro grande êxito com a Revolução Francesa, sendo que o fluxo desse processo histórico iniciou-se mesmo antes dessa vitoriosa revolução burguesa.

O que a era digital realmente fornece de novo, segundo Bucci, é favorecer o diálogo entre diversos núcleos antes separados na era dos meios de comunicação em massa, o que consequentemente traz alterações à esfera pública. Bucci constata ainda que, mesmo que os núcleos sociais tenham fortalecido o diálogo entre si, a fragmentação ainda permanece em caráter mais amplo, mais geralista. E que por incrível que pareça, a era digital serviu para aumentar ainda mais a credibilidade, a confiabialidade e a reputação de marcas já convencionais na era dos meios de comunicação em massa, como CNN, The New York Times, entre outras.


A mesa seguiu com a apresentação de Javier Bustamante, professor titular de Ética e Sociologia na Universidade Complutense de Madrid e professor visitante do Departamento de Política Científica e Tecnológica (DPCT) da UNICAMP. Possuidor de um currículo internacionalmente admirável, Javier expôs em sua apresentação teorias econômicas que dão sustentação à idéia da Internet como uma rede plural, descentralizada e livre, em oposição aos atuais modelos que econômicos que simplesmente tratam os bens intangíveis - como informação, conhecimento e softwares - como se fossem bens materiais (capitalismo cognitivo).

Um dos ramos de sustentação das novas teorias econômicas expostar pelo prof. Bustamante é o conceito de ecossistema digital, de Yochai Benkler: várias "espécies" digitais que se beneficiam mutuamente, a morte de velhos modelos, estruturas auto-organizativas, ver as redes como bem-comum. Javier também referenciou Manuel Castells, citando a emergência de um contra-poder, que é a auto-comunicação das massas. Outra questão chave para a compreensão dos conceitos da nova economia citadas na apresentação é a releitura da lei da oferta e da demanda: é possível uma economia sustentável baseada em bens de consumo? O valor da nova economia não se baseia na escassez, mas na onipresença.


Para encerrar a mesa, contamos com a participação de José Murilo Jr., coordenador de cultura digital do Ministério da Cultura e um dos idealizadores do portal Cultura Digital. Murilo falou sobre como o Ministério da Cultura abssorveu e botou em prática as características interativas proporcionadas pela Internet: inovações no modelo comunicacional, abertura, transparência, diferencial comunicativo, descentralização do conteúdo, entre outras. Murilo também explicou o surgimento e funcionamento do portal Cultura Digital, que tem a pretensão de ser O fórum da cultura digital brasileira. O Cultura Digital tem centralizado diversas discussões sobre o tema, de maneira totalmente aberta, participativa e plural. O portal é uma verdadeira rede social, contendo grupos de discussão, perfis de usuários completos, relações de amizade, blogs internos e integração com outras plataformas sociais interativas, como outros blogs, Twitter, YouTube, entre outras.

Mais informações sobre essa mesa por Gabriela Agustini no blog Cidadania e Redes Digitais.

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

2º Seminário "Cidadania e Redes Digitais" - Mesa 2/6

A segunda mesa, mediada pelo coordenador do Programa de Pós-Graduação da Cásper Líbero, Prof. Dr. Dimas Künsch, começou com o bom humor do Prof. Langdon Winner, da Rensselaer Polytechnic Institute, em Nova Iorque. "Farei minha fala livre de apresentação PowerPoint" (PowerPoint free, fazendo um trocadilho com free software/software livre). O Prof. Winner apresentou um ponto de vista bastante radical sobre plágio no contexto educativo. Criticando fortemente um software de detecção de plágios, o Turn it in (ou "Turn the bastard in" 1, como brincou o Prof. Winner), sua exposição apresentou argumentos de que nem toda informação é "citável", ou seja, há referências que estão tão intrínsecas em nosso pensamento que os alunos podem nem identificar que estão fazendo referência a outro autor.

O mecanismo do software é binário demais para detectar plágios, ou seja, falta-lhe inteligência e sensibilidade, e por isso acaba por cometer injustiças, acusando falsamente alunos de plagiadores, e que não devemos desencorajar os alunos a copiarem textos de terceiros. A visão do Prof. Winner nos parece tão radical quanto a crítica que ele próprio faz do software Turn it in: o que nós educadores devemos fazer, professor?! Incentivar os alunos a copiarem textos da Internet? Não ensiná-los a fazer citações bibliográficas? Referenciação é necessário, é justo, é sincero, até mesmo a licença Creative Commons exige citação da fonte e autor originais.

A mesa seguiu com a apresentação do Prof. Ronaldo Lemos, diretor do Centro de Tecnologia e Sociedade da Escola de Direito da Fundação Getúlio Vargas e diretor do Creative Commons Brasil. Ronaldo dissertou sobre como a Internet passou a ser alvo de tentativas de ser criminalizada no Brasil, assunto que foi aprofundado por Sérgio Amadeu na Mesa 6. Lemos apresentou alguns dos pontos mais polêmicos da Lei Azeredo, que apresentava uma proposta de cima pra baixo para criminalizar a Internet no Brasil. Além de autoritária, a Lei Azeredo era incoerente com a realidade tecnológica e social da Internet, e não levava em conta as peculiaridades que tornam a Internet uma grande rede de compartilhamento livre (e controlado, como extensamente discutido no Seminário).


Essas peculiaridades tornam-se ainda mais evidente quando a sociedade civil organiza-se utilizando a própria Internet e rejeita calorosamente a proposta do Senador Eduardo Azeredo. Essa mobilização culimou em um processo colaborativo de discussão e formulação de um marco civil para a Internet brasileira, atualmente sistematizado no site Cultura Digital, rede social que nasceu de uma parceria do Ministério da Cultura com a Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP), formado pelos Ministérios da Ciência e Tecnologia (MCT) e da Educação (MEC). O processo do marco civil é extremamente inovador: as discussões desenvolvidas no site (que já vinham sendo discutidas em blogs, sites, no Twitter, etc.) serão sistematizadas e levadas em consideração pela equipe do Marco Civil. Ronaldo termina sua apresentação com a esperança de que o marco civil sirva como referência para processos futuros, onde a sociedade civil tem participação mais ativa na elaboração das leis federais. É uma nova relação de representatividade.

Encerrando a mesa, o Prof. Giuseppe Cocco, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), falou sobre a oposição entre o neocapitalismo e o capitalismo cognitivo, ou bio-capitalismo. Esse último é a apropriação das lógicas de consumo dos bens materiais (commodities) sobre a informação e o conhecimento, que por sua vez são bens intangíveis. Assim, aplica-se conceitos inapropriados e descontextualizados, quando a alternativa deveria ser encontrar novas formas de lidar com esses bens não-materiais. Neocapitalismo, também chamado economia mista, é um termo utilizado para designar uma nova forma de capitalismo - surgido nas sociedades reconstruídas e tecnológicas do pós-guerra - que se caracteriza pela correção de seus excessos, mediante a aplicação de medidas visando ao bem estar social.2

1 Turn it in significa "entregue-o, delate-o". Turn the bastard in seria "dedure o maldito aluno".
2 Wikipedia. Neocapitalismo. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Neocapitalismo>. Acesso em 10 nov. 2009.

Mais informações sobre essa mesa por Gabriela Agustini no blog Cidadania e Redes Digitais.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

2º Seminário "Cidadania e Redes Digitais" - Introdução e Mesa 1/6

Nos dias 4 e 5 de novembro de 2009, a Fundação Cásper Líbero, por meio de seu curso de Mestrado em Comunicação, promoveu o 2º Seminário "Cidadania e Redes Digitais". Foram 2 dias, 6 mesas, 19 palestrantes, 6 mediadores, 2 tradutoras simultâneas, uma grande equipe audiovisual e de logística e um anfiteatro muitas vezes lotado de ouvintes sedentos por debates ao final das exposições, tudo isso coordenado principalmente pelo Prof. Dr. Sérgio Amadeu. Os debates giraram em torno de temas como a sociedade interconectada, produção compartilhada e descentralizada de informação e conhecimento, anonimato na rede, mecanismos de controle, software livre, padrões abertos, interatividade, e é claro, cidadania, entre outros. O evento foi transmitido ao vivo via streaming.

Nós dois, professores da disciplina TIEM, recebemos o convite da coordenação do Programa de Pós-Graduação em Imagem e Som da UFSCar (PPGIS/UFSCar). A Cásper Líbero reservou duas inscrições para alunos do PPGIS, que foi endereçado a nós pela afinidade com nossos temas de pesquisa. Faremos aqui uma breve análise do que rolou nas mesas e debates durante os dois dias de evento. Vamos lá?!


Mesa 1 - Protocolos, códigos, e o princípio da neutralidade na rede

Após Sérgio Amadeu ter feito as honras da casa, a mesa foi muito bem aberta por Tim Wu, professor da Columbia Law School. Com uma presença marcante, Tim apresentou dados e argumentos sobre como a história dos meios de comunicação têm apresentado um ciclo que se repete a cada inovação tecnológica comunicacional: invenção e fundação (por um indivíduo ou grupo), abertura para a população e dominação político-econômica por um pequeno e seleto grupo (geralmente de empresas e grandes corporações). Foi assim com o cinema, o rádio, a TV, e a tese de Tim é o que o mesmo poderá ocorrer com a Internet. Tim argumenta: "neutralidade na rede é a opção de cada um escolher quais informações deseja receber".

Seguiu-se a apresentação de Demi Getschko (pasmem: esse é brasileiro!), engenheiro e diretor-presidente do Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br), ator importante na consolidação da Internet no Brasil. Demi falou sobre a natureza dos protocolos da rede, desenvolvidos para serem abertos, transparentes e neutros desde seus primórdios, e apontou subsídios para fortalecer os esforços de muitos para manter a neutralidade da rede. Demi aponta ainda que a responsabilidade não é somente do governo, mas da sociedade civil, que deve organizar-se para manter esse direito básico.

Para manter o altíssimo nível dessa mesa, coube a Carlos Afonso encerrá-la. Também engenheiro e membro do Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br), Afonso apresentou dados alarmantes: a empresa Narus desenvolveu um software que analisa o tráfego semântico da Web, ou seja, qualquer dado que trafegue por uma rede conectada à Internet pode ser identificado, armazenado, manipulado, copiado ou destruído, inclusive em tempo real. Softwares como esse podem ser (pra não dizer que já o são) instalados pelos provedores de acesso para controlar o tráfego de dados de cada usuário, podendo inclusive boicotar o acesso a determinadas informações ou tipos de informação (como por exemplo um download ou uma conversa via VoIP).

Há ainda outros dados preocupantes: no Brasil, apenas cerca de 10,8 milhões de pessoas têm acesso à banda larga (menos de 10% da população). Na verdade, ainda segundo Afonso, o conceito de banda larga no Brasil é bastante questionável: qualquer conexão com mais de 128Kbp/s já é considerada banda larga, enquanto a maior abertura disponível comercialmente é de 12Mbp/s. Qualquer abertura acima disso existe em caráter experimental. Na Europa, o padrão para banda larga é qualquer conexão de no mínimo 2Mbp/s, e há disponibilidade comercial de conexões de até 100Mbp/s! O valor cobrado por essas conexões são indignantes: em São Paulo, o custo médio de uma conexão banda larga é de R$150 a cada MB/s por mês; em Londres, esse mesmo MB/se por mês custa aprox. R$2,60, 65 vezes mais baixo!

Mais informações sobre essa mesa por Gabriela Agustini no blog Cidadania e Redes Digitais.